Histórias de startups são super inspiradoras. Empresas que surgem do zero, e muitas vezes revolucionam mercados inteiros. Só que não basta olhar para as empresas que nascem para pensar sobre inovação. Mais crucial ainda é entender por que as essas empresas morrem.
O erro ensina mais do que o acerto. Quando você acerta, muitas vezes nem sabe o porquê de ter dado certo. Quando você erra, sabe o que corrigir.
Até porque startups morrem aos montes. Estima-se que 9 em cada 10 startups morrem antes de completar um ano.
Entender as causas deste fracasso é um ativo valioso, que diz muito sobre os limites da inovação. Para as empresas que seguem no mercado, serve de inspiração para ajustes de rota.
Sobre os seus muitos experimentos que deram errado, Thomas Edison disse, certa vez que:
“Eu já aprendi 50 mil jeitos diferentes que deram errado. Isso significa que eu estou 50 mil vezes mais perto de finalmente criar um experimento que funcione.”
De tão inovador, Edison chegou a ser conhecido como “O Feiticeiro de Menlo Park” quando inventou o fonógrafo, nos anos 1870 (em referência ao nome da sua vizinhança). Depois disso ele ainda criou a lâmpada incandescente — e foi o grande responsável pela popularização da energia elétrica ao redor do mundo.
O legado de Edison inspirou a consultoria CB Insights a montar um obituário das startups que atingiram o vale da morte. A empresa coleta motivos de fechamento desde 2014, e já compilou cerca de 300 cases de insucesso.
A CB Insights estima que 70% das startups de tecnologia cessam os trabalhos antes de completar 20 meses (geralmente logo depois da primeira rodada de captação com investidores).
70% das startups fecham antes de completar 20 meses (CB Insights)
Entre as empresas de hardware (que vendem os próprios aparelhos e dispositivos, e não os softwares e aplicativos) a situação é ainda mais grave. Um total de 97% morrem ou viram zumbis logo após realizar um crowdfunding ou rodada inicial de investimento.
A CB Insights elencou as 20 principais razões de fechamento. Muitas startups alegam mais de um motivo (por isso a soma das categorias é superior a 100%).
Muitos estão relacionados a finanças. A dificuldade de encontrar um modelo de negócios na hora de escalar o negócio; de achar um investidor para dar suporte aos próximos passos; ou mesmo de fechar as contas no fim do mês.
Liderança e equipe também pesam bastante. Empreendedores sem paixão e times sem engajamento ou preparo para tirar o negócio do papel são alguns dos fatores citados.
Uma quantia considerável de mortes está relacionada a estratégia de negócios. Muitas vezes falta de foco no cliente ou as startups são atropeladas pela concorrência.
Mas o fator número 1 é o mais simbólico de todos.
Estas empresas novatas cometem o mesmo erro de muitas companhias tradicionais. Focam na solução. E não no problema. Este é o motivo número 1 para as startups fecharem:
42% das startups fecha as portas por falta de necessidade do mercado
Muitas startups partem de uma “ideia genial”. Algo diferente, nunca antes feito. Mas ser “diferentão”, sem ter um significado, não serve para nada.
Uma ideia disruptiva só vira um negócio se ela resolve uma dor do mercado.
A Uber deu certo porque as pessoas precisavam pedir táxi de forma mais prática e barata. Não só porque era um aplicativo moderninho.
As startups, assim como as empresas tradicionais, devem pensar no valor da inovação na hora de criar. Inovar por inovar não faz sentido.
As razões foram elencadas pela CB Insights com base em uma pesquisa recorrente de “obituários” de startups.
Confira os 20 motivos pelo qual startups fecham:
Não pivotar, ou seja, mudar de ideia ou desistir a tempo de um produto ruim, uma má contratação ou de uma decisão errada foi citado como razão para insucesso por 7% das startups.
Se casar com uma ideia ruim pode dragar recursos e dinheiro, além de deixar os funcionários frustrados com a falta de sucesso.
Trabalhar até o corpo não aguentar mais. Muita gente se orgulha disso, e na vida do empreendedor que está colocando um negócio de pé é meio difícil de fugir das longas horas de dedicação.
Mas chega um momento em que os limites do saudável são ultrapassados, e aí falta energia até para coisas básicas. O “burnout“, ou esgotamento físico, foi citado como motivo para fechamento do negócio por 8% das startups pesquisadas pela CB Insights.
Ter um time sólido, diverso e focado em resultados, assim como a habilidade de saber direcionar esforços e priorizar tarefas é algo fundamental para evitar que o corpo chegue a este limite.
Não utilizar a rede de network a seu favor. Ter mentores, investidores, mas não aproveitar esta experiência para discutir os rumos do seu negócio. Foi indicado como motivo para fechamento de 8% das startups pesquisadas.
Utilizar os investidores, não ter medo de pedir ajuda. E parar de achar que sabe tudo. São algumas das formas de evitar este erro.
Não ter envergadura para lidar com mudanças e complexidades legais é um dos motivos que levam ao fechamento de startups. Um exemplo são as startups ligadas à reprodução de música — muitas morreram pela dificuldade de lidar com royalties e batalhas legais com artistas, gravadoras e outros representantes da indústria.
Muitas startups dizem ter fechado por falta de grana. Mas 8% citam, especificamente, a falta de investidores. Em especial para as rodadas chamadas “follow-on” — quando a empresa já recebeu uma primeira rodada de investimentos, e precisaria de um segundo aporte para continuar a alavancar o negócio.
Limitações geográficas foram apontadas como causa do fechamento por 9% das startups. A pesquisa cita o caso de um aplicativo que começou em Chicago (EUA) e ficou muito popular por lá. Mas não conseguia ter um usuário sequer na vizinha Milwaukee, muito menos em Nova York.
Além disso, muitas empresas tiveram dificuldade em lidar com times remotos espalhados por diferentes cidades, tanto pelas dificuldades de comunicação quanto pela burocracia de ter funcionários em diferentes estados (o que é particularmente sensível nos Estados Unidos, onde boa parte das regras de contratação estão vinculadas a legislações estaduais).
Muitos empreendedores seguem em uma ideia que acreditam ser genial. Mas não tem paixão ou conhecimento pela área de atuação em que estão adentrando. Este problema foi apontado por 9% das startups como motivo para fechar as portas.
Para algumas startups faltou pivotar (mudar de rumo ou de modelo de negócios). Outras pivotaram, mas se deram mal com o resultado. A pesquisa alerta que mudar por mudar é um erro. O risco deve ser calculado, e a mudança deve fazer sentido para o modelo do negócio.
A falta de coesão e objetivos em comum entre os investidores e a equipe da startup (em especial os fundadores) foi um dos motivos para fechamento de 10% das startups.
Se distrair com projetos, problemas pessoais. Ou simplesmente falta de foco foi apontado como motivo para fechamento de 13% das empresas.
Calcular mal o momento ou local de lançamento de um produto. Lançar ele muito cedo, e os usuários acharem que está muito amador. Ou tarde demais, e perder uma janela de oportunidade de negócio. Com tecnologia muito avançada, que ainda não se popularizou, ou que já virou obsoleta. Errar o timing de lançamento foi um dos motivos para o fechamento de 13% das startups.
Ignorar o consumidor e o usuário é um bom caminho para falhar. Muitos times passam muito tempo se dedicando a aperfeiçoar o produto e não ouvem nenhum feedback dos seus usuários. Muitas empresas só percebem a necessidade de ouvir os consumidores quando é tarde demais.
Não compreender direito quem é o público que você precisa atingir, não saber como chamar a atenção e nem como convertê-los para leads e potenciais clientes. Ter um marketing mal feito foi apontado como motivo para fechamento de 14% das startups. Muitos empreendedores focam em desenvolver bons produtos, mas não têm ideia de como vender ou promover sua ideia.
O modelo que serve para tirar uma startup do papel muitas vezes não é o mesmo que vai fazer o negócio ganhar escala. Muitas empresas patinam para encontrar um modelo de negócios que se adeque a suas diferentes fases. Muitas vezes a companhia não consegue aproveitar a tração possibilitada por um aporte financeiro por falta de adequação do modelo.
Muitas startups focam muito em ganhar clientes massivos ou em criar produtos muito práticos. Mas esquecem de deixar isso tudo amigável para o usuário.
A experiência do usuário não é divertida ou prazerosa. O que pode levar à morte de muitos produtos que seriam úteis e até importantes no dia a dia das pessoas.
Acertar no preço é um dos maiores pepinos que as startups enfrentam. Cobrar caro ou barato demais. Não encontrar um valor que as pessoas queiram pagar. E não conseguir pagar suas contas.
A pesquisa da CB Insights traz o case da startup Delight IO, que criava automações para celular. O plano mais caro da empresa custava US$ 300 dólares. Mas os clientes nunca reclamaram por achar caro demais. Eles sentiam falta de um produto mais completo (e talvez pagassem até mais caro por um produto mais bem acabado).
Esse motivo tem algo de irônico. Muitos manuais dizem para as startups não ligarem para a competição, para criarem produtos que criem valor. Mas muitos empreendedores confundem isso com fechar os olhos para a concorrência e ignora quando outros competidores entram no seu mercado.
Isso é especialmente sensível para as empresas responsáveis por criar novos mercado.
Ser ultrapassado pela concorrência pesou no encerramento de 19% das startups.
O terceiro motivo que mais pesa no fechamento de startups é a falta de um time correto. Muitos fundadores se arrependem de não ter criado um time diverso, com diferentes skills desde o início.
Um erro comum é montar um time inicial que não tem capacidade para fazer o produto rodar. O time fundador deve ser montado com diferentes skills, e deve ser capaz de fazer a empresa girar sozinho, já no começo. Dependendo o mínimo possível de freelancers.
Tempo e dinheiro são recursos escassos. Por isso devem ser utilizados com muito cuidado.
Não gastar corretamente e ficar sem dinheiro é motivo para o fechamento de 29% das startups.
Em geral as empresas que alegam este motivo também fecharam por não encontrar um produto com fit de mercado — ou por não conseguir pivotar corretamente.
Quase a metade das startups, 42% fecharam porque não havia necessidade de mercado para o produto ou serviço que elas ofereciam.
Uma startup de saúde, por exemplo, surgiu para tornar os escritórios mais eficientes. Foi só depois que eles perceberam que o grande objetivo dos médicos era conseguir mais pacientes.
Quando as startups não estão resolvendo uma dor de mercado, elas falham. A tecnologia pode ser excelente; a reputação e expertise, ótima; e a plataforma pode ser super amigável de se navegar. Nada disso serve para muita coisa se o mercado não precisa daquilo que a empresa oferece.
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