No ano passado, a consultoria global Protiviti lançou o relatório “Perspectivas de Executivos para os Principais Riscos em 2018”. O resultado mostrado pela pesquisa é que o ritmo super acelerado do desenvolvimento tecnológico e as inovações disruptivas, aliado à resistência organizacional à mudança, seriam as MAIORES PREOCUPAÇÕES de 2018 – ao menos para um grupo de 728 empresários, formado por líderes de diferentes regiões do globo.
2019 chegou e o tema “transformação digital” ainda será o grande desafio dos próximos dois/três anos. Eu me junto à preocupação destes líderes no sentido de que tenho a real noção do quanto a transformação digital é algo importante e desafiador. Não somente no aspecto organizacional, mas no ASPECTO HUMANO também.
Afinal, a transformação digital faz com que a tecnologia esteja COMPLEMENTANDO OU SUBSTITUINDO tarefas. Então, nós, profissionais, precisamos otimizar e maximizar JUSTAMENTE as características que nos fazem verdadeiramente humanos. Porque, por exemplo, se atualmente a tecnologia, com suas linhas de código e algoritmos, proporciona o que antes as empresas buscavam em Q.I. (coeficiente de inteligência), agora, o que podemos agregar como seres humanos é a INTELIGÊNCIA EMOCIONAL – como, por exemplo, a empatia e o espírito de autocrítica.
Daniel Goleman, autor do livro-referência “Inteligência Emocional”, define de forma ímpar a inteligência emocional como a “capacidade de identificar os nossos próprios sentimentos e os dos outros, de nos motivarmos e de gerir bem as emoções dentro de nós e nos nossos relacionamentos.”
- Admite erros e não tem medo de demonstrar suas próprias fraquezas em público;
- Faz follow-up agradecendo pela oportunidade de participar em projetos e/ou ao ser entrevistado(a) e/ou contratado(a);
- Pede feedbacks espontaneamente, ou seja: sem que isso seja regra ou necessário;
- Oferece ajuda a um colega sem que essa ajuda tenha sido pedida – e não fala sobre isso para ninguém, para não se gabar;
- Quando há algum problema, não reclama, mas chega com ideias e soluções;
- Tem real interesse em saber mais pelo trabalho de outras áreas, marcando cafés, almoços, encontros de happy hour etc;
- Se não souber de algo, vai atrás deste conhecimento e busca estudá-lo;
- Depois de um fracasso, tenta de novo.
Todos esses comportamentos provém de TRÊS fundamentais traços comportamentais que são essenciais na era da transformação digital. Eles sãos:
- PROATIVIDADE EM AJUDAR: que nasce do RECONHECIMENTO DAS EMOÇÕES DOS OUTROS;
- CAPACIDADE DE AUTOCRÍTICA: que nasce do RECONHECIMENTO DAS PRÓPRIAS EMOÇÕES;
- PODER DE ADAPTAÇÃO: que nasce da capacidade de CONTROLAR AS PRÓPRIAS EMOÇÕES.
E como desenvolvê-las?
Primeiramente, precisamos mergulhar no AUTOCONHECIMENTO. E para isso, é necessário criar uma pré-condição para a possibilidade do diagnóstico, um espaço para mergulhar em nós mesmos. Gosto de chamar essa pré-disposição de “conjuntura dos 3 S’s”:
- “Serenidade” ou mente vazia;
- “Solidão” ou companhia de você mesmo;
- “Silêncio” ou momentos para você ouvir melhor o que vem dentro de você.
Normalmente, consigo isso em momentos específicos, e particularmente quando estou em contato com a natureza. Um exemplo foi quando tive uma palestra em Brasília e fui viajar sozinho para passar alguns dias na Chapada dos Veadeiros. Mergulhei fundo em mim mesmo. Foi tão inspirador, que até hoje carrego os pensamentos e insights que tive durante as trilhas e momentos de contemplação.
Você pode criar estas oportunidades de autoconexão com diversas iniciativas, como retiro, contato com a natureza; ou ainda, com coisas menos óbvias, como hobbies e paixões que cada um pode ter. No meu caso, um exemplo delas são as artes marciais, a escritura e a fotografia.
Aí, ao fazer o autodiagnóstico e, consequentemente, identificar as lacunas que você tem a respeito desses comportamentos, o que eu sugiro é que você “se force” a praticar alguns deles. Como, por exemplo, mesmo que você não sinta vontade de ajudar algum colega, o faça mesmo assim, porque você irá se surpreender pela RECIPROCIDADE de como isso volta. Pode ser que não seja na mesma hora, mas volta. Às vezes, quando menos se espera. A mesma coisa com proatividade: primeiro, tome ação e faça, se forçe, e depois veja os resultados. Com o impacto positivo, você começa a querer fazer ainda mais, gerando um círculo virtuoso.
Paralelamente, a empresa tem que criar os mesmos pressupostos no contexto corporativo; é imprescindível “deixar tempo” para as pessoas buscarem esse autoconhecimento. Nós estamos vivendo em um cenário de tanta poluição de informação (reuniões, e-mails, conversas que não agregam valor), que as empresas precisam estruturar de, forma top down, esses momentos. Isso em contexto organizacional, de visão, de time e de funcionário! Cada colaborador precisa achar este espaço para melhor contribuir para a organização.
E isso não é um assunto apenas de ‘departamentos’, nem de ‘processos’. É um assunto de pessoas e, principalmente, de LIDERANÇA. A alta liderança precisa ser exemplo e cascatear isso. Ela tem que ser a primeira na fila de hora de abraçar as práticas que visam o bem-estar, como meditação, trabalho remoto, home office, enfim… Uma infinidade de ações para diminuirmos a poluição de informação desnecessária e conseguirmos enxergar as pessoas com potencial de desenvolvimento neste contexto de transformação digital.
E tudo isso com um OLHAR DE APRENDIZ diante de todo esse contexto, será muito mais fácil navegar nas águas muitas vezes agitadas da transformação digital!