Autossabotagem aparece quando você se vê, sem perceber, adiando tarefas importantes, duvidando da própria capacidade em reuniões ou mesmo boicotando uma oportunidade de promoção por medo de não corresponder às expectativas.
Talvez você já tenha deixado de se candidatar a um projeto desafiador porque achou que não estava pronto, mesmo com todas as qualificações, ou tenha cancelado uma apresentação de última hora por insegurança.
Esses gestos, muitas vezes sutis, podem se infiltrar no dia a dia e transformar a rotina em um terreno minado de chances desperdiçadas.
Stanley Rosner e Patricia Hermes são referências no tema de autossabotagem: ele é psicanalista e psicoterapeuta especializado em psicodinâmica, e ela é psicanalista e escritora.
Neste artigo, usamos como base o excelente material do livro deles, O Ciclo da Autossabotagem, para mostrar de forma clara o que é autossabotagem e como evitar cair nessas armadilhas.
O que é Autossabotagem e por que ela acontece?
“Há uma tendência quase irresistível de repetir padrões que nos destroem, tal como Sísifo, condenado a rolar a pedra morro acima, apenas para vê-la rolar novamente abaixo.” Stanley Rosner & Patricia Hermes
Autossabotagem não é apenas aquele tropeço isolado. É um hábito que se repete de forma quase automática, prejudicando seu desempenho no trabalho, seus relacionamentos e até suas metas pessoais.
Segundo um estudo da MindMiners (2024), em parceria com a Fundação Estudar, mostrou que 52 % dos profissionais brasileiros apontam a procrastinação como o fator que mais afeta sua produtividade no trabalho, muito à frente de outras causas como sobrecarga de tarefas (25 %).
Rosner compara a autossabotagem a uma “compulsão à repetição”. Você faz algo que sabe que não vai dar certo, mas mesmo assim continua repetindo o mesmo comportamento.
Quando não conseguimos controlar o que aconteceu no passado, muitas vezes enterramos as lembranças e as emoções.
Aí é que tá! Esse entulho interno não some. Ele aparece de novo na forma de autossabotagem.
O ciclo da autossabotagem
Rosner descreve o ciclo em três etapas simples:
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Padrão inconsciente: você repete comportamentos que minam seu sucesso sem perceber.
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Reconhecimento tardio: quando tudo dá errado (projeto fracassado, conflito, frustração), surge o choque: “Como foi que isso aconteceu de novo?”
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Consternação e negação: em vez de olhar para a raiz do problema, a culpa recai no trânsito, no chefe ou até em você mesmo, reforçando a crença de que “não é merecedor de um bom resultado”. E o ciclo recomeça.
Somente quando trazemos o trauma reprimido à consciência, podemos, aos poucos, abandonar esse ciclo de repetição.
Muitos profissionais não percebem que esses comportamentos têm causas psicológicas profundas e tendem a atribuir seus fracassos ao chamado “azar” ou às “más circunstâncias”. Isso mantém o ciclo ativo.
Raízes da autossabotagem
Em muitas famílias, existe uma mensagem não dita: “Quem sofre muito, merece o sucesso.”
Crescer ouvindo isso faz com que, mesmo em áreas diferentes (carreira, relacionamentos, finanças), acabemos repetindo o mesmo padrão.
Se você cresceu ouvindo que “é preciso ralar até cair para conseguir algo”, vai reproduzir esse processo mesmo quando não é necessário.
Mesmo sabendo que uma opção nova pode ser melhor, preferimos o que já conhecemos por parecer mais seguro, mesmo que não funcione tão bem.
Em 2025, com tantas ferramentas digitais disponíveis, ainda vemos profissionais que evitam metodologias inovadoras porque “não se adaptam ao desconhecido”, mesmo reconhecendo as vantagens.
Rosner compartilha a história de uma advogada que nunca cumpria prazos. No trabalho, ela vivia adiando as entregas e só percebeu, na terapia, que o medo de não atender às expectativas do pai estava por trás da procrastinação.
Muitas vezes, a procrastinação reflete receio de errar, medo de desapontar ou perfeccionismo excessivo, ou seja, traços que podem ter origens no seu passado.
Dois exemplos para entender sobre a origem da autossabotagem:
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Ana sempre foi ótima em apresentações, mas, toda vez que precisava falar em público na empresa, sentia que sua voz tremia e suas mãos suavam. No fundo, ela lembrava de ter sido ridicularizada por um colega na adolescência quando falou em sala de aula. Ao tomar consciência desse padrão, conseguiu se preparar melhor e passou a aceitar convites para palestras internas.
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Carlos recebeu a oportunidade de liderar uma equipe de projeto, mas decidiu não se candidatar porque achava que não tinha experiência suficiente. Enquanto colegas ocupavam cargos similares, ele ficou estagnado. Só percebeu o padrão quando o terapeuta mostrou que aquela crença de “não ser bom o bastante” vinha de uma comparação constante com o irmão mais velho.4
Identificando e mudando seus próprios comportamentos autossabotadores
- Reunião de evidências: observe quando você se sente quase “obrigado” a falhar ou desistir, mesmo sabendo que não faz sentido. Pergunte-se:
“Houve um momento em que eu ia bem, mas dei um passo atrás sem saber por quê?”
“Que padrões se repetem na minha carreira (projetos, promoções, cobranças) sem que eu consiga avançar?”
- Diário da autossabotagem: anote possíveis gatilhos, pensamentos e emoções. Depois, crie uma estratégia para cada episódio. Assim, você começa a perceber o que antes passava batido.
- Autoentrevista: imagine que alguém pergunta quais são suas metas profissionais e o que está te travando. Responda sem filtro e reflita sobre o que isso mostra sobre seus medos.
- Mapeamento de crenças limitantes: escreva as frases que ecoam no seu “monólogo interno” como “nunca vou conseguir esse cargo” ou “não mereço reconhecimento”. Depois, tente rastrear a origem dessas crenças no seu passado.
Conhecer seu padrão é o primeiro passo para escapar da reação automática.
Sem esse insight, seguimos no piloto automático de comportamentos que nos puxam para trás.
Autossabotagem pode parecer uma barreira intransponível, mas não é um destino.
Ao trazer seus impulsos para a consciência, você cria espaço para escolher caminhos que fomentem sua evolução em vez de manter você preso ao passado.
Lembre-se de que rescrever sua história envolve pequenas decisões diárias que desafiam o automático.
Com o tempo, esses novos hábitos fortalecem sua confiança e abrem portas em vez de fechá-las.
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